15/05/2024

Alexandre de Moraes cobra explicações da PRF sobre operações relacionadas ao transporte público de eleitores 

Foto: PRF/Divulgação.

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, determinou que o diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, preste explicações sobre operações realizadas pela corporação neste domingo. A determinação tem como base um vídeo publicado pelo prefeito de Cuité, no interior da Paraíba, em que mostra agentes realizando uma ação na entrada da cidade localizada a 200 quilômetros de João Pessoa.

— O povo da zona rural está intimidado e não está vindo votar. Muitas pessoas não vieram votar por medo de ter que passar pela blitz montada pela PRF na principal entrada da cidade. Estão na entrada da cidade com uma viatura e um reboque, fazendo ainda testes de bafômetro — afirmou ao GLOBO o prefeito de Cuité, Charles Cristiano Inácio da Silva (Cidadania). A cidade tem 17 mil eleitores, dos quais 40% vivem na zona rural.

Prefeitos e eleitores de cidades do Nordeste fazem relatos de operações semelhantes, com blitzes da PRF na região. Segundo dados internos da corporação obtidos pelo GLOBO, foram 560 operações de abordagens a ônibus de passageiros até as 15h deste domingo. Questionada, a PRF não se pronunciou ainda.

Na noite de sábado, contudo, Moraes proibiu operações da corporação relacionada ao transporte de eleitores neste domingo, “sob pena de responsabilização criminal do Diretor Geral da PRF, por desobediência e crime eleitoral”.

Ele ainda determinou multa de R$ 150 mil por hora de descumprimento. “A Justiça Eleitoral tem envidados esforços para garantir o transporte público gratuito ao eleitor, como forma de assegurar o direito de voto a todos os eleitores com democrática ampla, não havendo razões a permitir embaraços nesse sentido”, escreve ele na decisão.

A determinação de Moraes atendeu a um pedido do deputado reeleito Paulo Teixeira (PT-SP), que denunciou à Corte um suposto uso eleitoral da PF e da PRF em benefício da candidatura à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Uma das preocupações de campanha petista neste segundo turno é a abstenção de eleitores, que costuma ser maior nos segmentos da população em que Lula tem mais votos, como entre quem tem menor renda. Para isso, o partido incentivou que prefeituras aliadas oferececem transporte público gratuito neste domingo.

Na região Nordeste, onde há os relatos de operações da PRF, foi onde Lula registrou sua maior vantagem em relação a Bolsonaro no primeiro turno. O petista teve mais de 21 milhões de votos, enquanto o candidato à reeleição teve mais de 8,7 milhões. A diferença, portanto, foi de quase 13 milhões de votos.

Em seu novo despacho, deste domingo, Moraes pediu esclarecimentos da PRF sobre a operação em Cuité: “De ordem, oficie-se, com urgência, o Diretor-Geral da Polícia Rodoviária Federal para informar IMEDIATAMENTE sobre as razões pelas quais realizadas operações policiais, relacionada ao transporte público de eleitores”, diz a decisão.

O diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, chegou por volta das 14h na sede do TSE, em Brasília. Segundo apurou o GLOBO, ele foi tratar sobre as operações.

Outros casos

Em Jacobina (BA), a 340 quilômetros de Salvador, o prefeito Thiago Dias (PC do B) questiona uma operação feita pela PRF no centro da cidade. Segundo ele, a ação na região é atípica.

– Eu tenho 39 anos, sou lavrador, nunca tinha visto isso em nosso município, a política rodoviária intimidando as pessoas. É uma operação meramente para coagir o eleitor, sem necessidade. É inadmissível. Eles disseram que cumpriam determinação da Superintendência de Brasília. Eu chamei a guarda municipal da cidade e disse que não vai ser guinchado um carro sequer aqui aqui no município. Só passando por cima de mim – afirmou ao GLOBO o prefeito, que analisa acionar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Nascido em Aracaju, Lucas, de 30 anos, relata que pegou um ônibus em Aracaju com destino a Alagoas, onde vive atualmente. No meio da viagem, segundo ele, uma blitz feita pela PRF paralisou o veículo por cerca de meia hora.

— Peguei o ônibus de Aracaju para Niterói, que fica na divisa com Alagoas. É uma viagem que pode levar até quatro horas, é longa. Muita gente, ao longo do dia, pode perder o horário de votação porque eles permanecem na estrada fazendo a operação — relata Lucas que teve o vídeo replicado pelo senador Humberto Costa (PT-PE). Na gravação, é possível ver os agentes da PRF entrando no veículo.

Diante de denúncias de casos semelhantes, a coligação de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu ao Tribunal Superior Eleitoral a intimação imediata do diretor-geral da PRF e sua prisão por descumprimento de decisão judicial.

Por O Globo